21 de janeiro de 2009

Tempo

Crônica sem nome e sem pretensão

 

“Parar, desacelerar para prestar atenção à correria à nossa volta”. Quando recebi esta intimação do editor, quase entrei em desespero. Parar? “Como assim? Não posso parar simplesmente!”

Até que uma tarde consegui me livrar dos problemas que tinha a resolver – ou melhor, eles se livraram de mim – e pude em muito tempo ter uma tarde de ócio. Fui à biblioteca, tomei um café demoradamente, sentei-me no bosque e fiquei observando as pessoas à minha volta. Tudo isso em menos de uma hora.

Fiz duas descobertas incríveis. Primeira: as pessoas estão tão acostumadas a correr – e me incluo neste grupo – que não sabem o que fazer em seus períodos de ócio. Segunda: Eu sou capaz de me dar um pouco de tempo.

De posse destas máximas, pude, então (como tanto queria meu editor), parar. (Coincidência ou não, exatamente algumas horas depois de ter declarado veementemente a ele que não podia, que não havia tempo).

Tempo...

Invenção moderna que só faz alterar a natureza da humanidade, o ato de medir o tempo nunca fez falta a ninguém. Calma, eu explico! (antes que os catedráticos queiram me queimar na fogueira dos impropérios...)

Não falo aqui do tempo que se mede em anos, séculos, eras. Falo do tempo do relógio, medido em minutos, segundos, e até mesmo milésimos de segundo, dada a situação em que nos encontramos hoje.

Transformado em mero acessório, o relógio hoje só serve para enfeitar; afinal de contas não se pode mais planejar a vida em grandes cidades com exatidão, se a cada dia o trânsito fica mais e mais complicado...

Todos correm, mas ninguém consegue realmente manter um bom ritmo e bons resultados. Se antecipam a vida profissional, a vida pessoal fica prejudicada (“como manter um namorado se mal tenho tempo para dormir?”). Se antecipam a vida acadêmica, roubam tempo do lazer (“quero ir ao teatro, mas preciso terminar o relatório do TGI...”)

A cada dia um novo desafio, para reservar tempo hábil para todas as atividades previstas, e ter ainda algum luxo nas imprevistas (“gostamos muito do seu currículo e gostaríamos de agendar uma entrevista para hoje, daqui a meia hora pode ser?”)

Pato Fu - Sobre o tempo

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