25 de novembro de 2010

The sounds of silence

Este é o quinto dia em que tento escrever alguma coisa pra que alguém - ou ninguém, como sempre - leia. Quero contar dos shows maravilhosos que vi, das besteirinhas tão símplices que soube que fizeram alguém feliz lá longe, de tudo o que me vem passando pela cabeça nesses cinco dias em que a rotina fez questão de se impor, quase como que avisando: "pode pisar nas nuvens pelo tempo que for, porque de mim você não foge!"

"De hoje não passa", pensei. Queria escrever um texto genial, falando de como burlei a segurança e entrei no festival com um perigosíssimo pacote de salgadinho de soja escondido. Ou de como passei o sábado todo à base de uma batata assada e meia, algumas cervejas e um punhado de biscoitos tipo "sembei" com gergelim. Queria dizer que nunca na vida tive tanto medo de um barco viking, eu que achei que já estivesse grandinha demais pra isso.

Achei que fosse essencial falar da companhia, já que amigos tanto próximos quanto distantes estavam lá. Imaginei como seria legal se a Tânia, por exemplo, lesse isso aqui e lembrasse que, sem querer, ela passou do meu lado no show dos Novos Paulistas. Pra que marcar encontros quando o Acaso já se preocupa com isso? E quando o acaso não basta, nada que uma foto não possa trazer os amigos que estão lá nas terras do Norte pra assistir aos shows conosco:


Pensei tambem em contar do friozinho na barriga que senti quando ouvi os primeiros agudos do Mika dominando aquele palco imenso. Do quanto eu pulei ao som de músicas que ouço há quase quatro anos. Do quanto eu lembrei de coisas que já não existem mais, enquanto ele pedia "A little bit of love, little bit of love..." Fui forte, as lágrimas - de saudade, tristeza ou arrependimento - não vieram. Também não poderiam, era dia de festa.

Festa da Dani, um dos presentes que Deus colocou na minha vida e falou "Toma conta que essa aqui é peça rara". Pra que gastar dinheiro com algum presente qualquer quando se pode ver os olhos da sua amiga brilhando, porque ela está a poucos metros do cara que embalou muitos momentos da vida dela? Não tem dinheiro que pague isso, nem escassez de ingressos que te impeça de importar um diretamente de Campinas ;)

Não podia omitir o fato de ter conhecido o Wagner e de ter aproveitado o show do Pavement em ótima companhia. Eu prometi que não ia atrapalhar, que ia ficar bem quietinha, e acho que cumpri direitinho =) Isso porque também não posso esquecer a cereja do bolo, ter sido praticamente expulsa do Playcenter com um "Vai pra casa, são-paulino" que eu tenho certeza que foi pra ele. No meu time, não!

Escreveria sobre a organização muito boa, sobre a cerveja aguada, quente e cara, sobre todas as forças que se foram enquanto eu pulava, gritava e me amassava no meio de tanta gente. Eu faria disso uma tentativa de esgotar todas as lembranças em palavras, para que esse loop eterno finalmente saísse da minha cabeça. É realmente constrangedor ser flagrada por um aluno enquanto você canta baixinho "Fun for an hour till the hour's gone | Can one trick night feed fourty days?"

11 de novembro de 2010

The temper trap

Exatamente um ano atrás alguém me falou a respeito de uma nova banda, australiana, da qual tinha ouvido uma música no filme "500 dias com ela". 2009 foi um ano um pouco cheio de descobertas demais, então resolvi ignorar na época. Encontrei um link pro CD de estréia da tal banda repassando alguns feeds no Google Reader (sim, por algum motivo eu mantenho assinaturas, embora raramente tenha tempo para ler tudo). De "vamos ouvir" passei pra "uia, é a música do Chuck?" e hoje em dia esse álbum já tem cadeira cativa no meu mp3 player.

Segue a dita-cuja. Sweet Disposition:


Se rolar um show deles em São Paulo ainda este ano como estão aventando por aí serei falida e meia, porém feliz. Prontofalei.

29 de outubro de 2010

Depois de 20 anos na escola

AVISO: Este post não faz questão de respeitar nenhuma ordem cronológica. Se você - como eu - cresceu assistindo "De volta para o Futuro" não terá problemas para entender ;)

Agosto de 2010, minha casa. A mãe de Carol conta que a filha gostaria, mas não havia conseguido iniciar seu mestrado ainda neste ano. Carolina tem um ano a menos que eu e concluiu a faculdade em dezembro último. Eu digo a ela que é melhor mesmo esperar um pouco.

Segundo semestre de 2003, Arujá. Carol e eu éramos da turma dos CDFs do colégio, ela no primeiro e eu no segundo ano do colegial. Colecionávamos boletins em que os noves-e-meio, noves e alguns oitos conviviam com uma enxurrada de notas DEZ. (Assim mesmo, DEZ, escrito por extenso com todas as letras em caixa alta. Tem como não almejar um boletim recheado deles?) A direção achou que estimularia o interesse dos alunos se oferecesse um prêmio (R$ 100) para o melhor aluno de cada sala, e um segundo prêmio (R$ 150) para o melhor entre os melhores do Ensino Médio. Foi a primeira e única vez em que, de fato, consegui converter minha inteligência em dinheiro vivo.

Maio de 2009, Virada Cultural em SP. Procurei por quase duas horas um amigo no meio da multidão reunida na Av. São João para assistir ao show dos... (quem era mesmo?) Já estava quase desistindo quando finalmente consegui reencontrar o brasileiro que conheci alguns anos antes, nas terras d'além-mar. Ele estava de passagem pelo Brasil, para concluir seu mestrado.

Fevereiro de 2007, Coimbra. Estudantes protestam contra a mudança no sistema de ensino superior, que reduz a duração do curso em um ano e possibilita a continuidade da carreira acadêmica com relativa facilidade. O objetivo é aumentar o nível de escolaridade e facilitar o aproveitamento de créditos entre as diversas universidades europeias. Ouvi de muitos portugueses aquela máxima que vem desde antes das caravelas: "O modo de fazer é o mesmo há séculos, por que mudar agora?"

Segundo semestre de 2006, São Paulo. Eu adorava minha vida de estudante. Estagiava numa ONG e tinha grandes planos pra quando terminasse a faculdade. Dois dos meus melhores professores eram bem jovens e emendaram a graduação e a pós, o que me fez pensar em fazer o mesmo. Até que um dia um deles me perguntou se eu gostaria de ser professora...

Ontem à noite, meu quarto. Me flagrei pensando em como eu seria feliz se eu ainda fosse estudante.

Três meses atrás, Arujá. Na falta de perspectivas, lugares ao sol e Q.I.(Quem Indicasse), resolvi procurar empregos fora da minha área. Encontrei uma atividade tranquila, trabalho do lado da minha casa e tenho os alunos mais fofos do mundo. Será que encontrei mesmo o caminho certo?

Dois meses atrás, ainda no meu quarto. Queria ser doutora. Queria queimar os neurônios que ainda restam. Queria pagar pra ver se vale a pena tentar matar essa minha sede de conhecimento que não acaba nunca.

(E se o Serra virar presidente eu dou um jeito de me mandar pra Coimbra de novo, continuar os estudos lá. Será que dá?)

22 de outubro de 2010

Atualizando

Vontade de escrever ao léu. Saudade de deixar os dedos simplesmente deslizarem pelo teclado, como se não houvesse mais nada a fazer ou sentir. A janta tá descongelando em cima da pia, o cachorro latindo feito um devairado e a sexta-feira à noite vai ser mais uma como qualquer outra nos últimos tempos.

(And I need a beer.)

Se você procura um grande texto rebuscado, cheio de alegorias bonitas e piadinhas nerds, perdeu seu tempo. Vaza, amigo, que hoje o papo é introspectivo. Lembra da descrição do blog? Então...

Meu irmão finalmente conseguiu consertar a moto que tava desmontada no quintal há pelo menos três meses. Felicidade instantânea.

Continua a busca por um ingresso do Planeta Terra. Continuo revoltada por não conseguir. É...

Comprei dois livros de quadrinhos pelo Submarino. Cachalote, de Daniel Coutinho e Rafael Galera. Retalhos, de Craig Thompson. O primeiro eu li hoje mesmo, em pouco mais de duas horas. Li não, devorei. Não entendi nada. Ou talvez tenha entendido tudo. Tudo o que eu não queria. É a vida. A dos personagens, a minha, a de qualquer um.

Menina mimada que sou, foi inevitável achar que o mundo (ainda) gira ao meu redor. Péssima escolha tentar comparar a minha história a uma (ou todas) do livro.

Segundo erro: insistir na comparação, mesmo depois de perceber que os enredos (sim, são cinco) não mostram exatamente a parte mais feliz da vida. Terceiro erro: não fazer - como sempre faço - a leitura com o caderninho do lado, pra anotar frases que eu achei interessantes ou destacar trechos. Herança da faculdade, não gosto de riscar livros. Acho que vou ter que ler tudo de novo. ^_^

Quero voltar pra Paris. Quero viajar o mundo. Quero um filho. Quero encontrar uma cachalote na piscina.

Bom fim de semana.

17 de outubro de 2010

Incoerência


Era uma vez uma menina que nasceu em 1987, quase junto com a democracia como a conhecemos hoje. Ela não viveu a opressão da ditadura que havia caído pouco tempo antes. Ela não teve seus direitos cerceados por governantes autoritários, nem foi presa ou torturada por defender ideologias consideradas perigosas. Mas ela estudou sobre isso, conheceu pessoas que passaram por episódios traumatizantes e até completar 23 anos ela ainda tinha esperanças na capacidade de julgamento do povo de sua terra. Essa menina sou eu.

Nasci e cresci em um lar evangélico (para aqueles que gostam de rótulos: cristão, protestante, reformado, presbiteriano). Nunca fui muito com a cara daqueles pastores que aparecem em programas na TV; seja fazendo pregações inflamadas, seja exorcizando demônios em cerimônias com 318 convivas. Comentava com minha mãe às vezes: "[Fulano] tem cara de charlatão". Minhas acusações gratuitas nunca tiveram sua confirmação, e eu seguia tranquilamente mudando de canal.

Até que uma figura ganhou meu respeito, quase dois meses atrás. Eu não tinha nada contra ele, mas uma mensagem de um de seus programas realmente me tocou. Achei que tinha ali alguém confiável. Um pastor que não dizia nomes e nem fazia referências veladas ao candidato X ou Y. Um homem cumprindo seu papel enquanto líder de um grupo social, alertando os seus a respeito das implicações de um ato tão simples e tão complexo quanto o voto.

Passo a citar: (03:50) "Cuidado, pastor, pra você não trocar o seu voto pelo telhado da igreja, pela porta da igreja, pelos bancos da igreja, porque isso é corrupção, como qualquer outra corrupção. Cuidado pra você não trocar o voto do seu rebanho por uma nomeação do seu filho. Isso é tão corrupto como qualquer outra corrupção. Eu quero deixar esse alerta aqui: não vamos vender o povo de Deus por interesses mesquinhos e pessoais." (04:28)

.

(esta é a parte 2, se quiser assistir à parte 1 clique aqui ou espere pelos "vídeos relacionados" ao fim deste.)

Assisti ao programa (que NÃO tinha a indicação dos candidatos a deputados estadual e federal), fiquei feliz, fui mesária no primeiro turno e tive algumas decepções logo que saíram os resultados. Não me manifestei porque achei desnecessário, uma vez que todos ao meu redor reclamavam da mesma coisa que eu. Daí essa semana me deparei com o mesmo pastor que disse que não podia citar nomes na TV fazendo uma pequena aparição no horário eleitoral gratuito. Morri por dentro um pouco mais.

Não é pela propaganda ao Serra. Não é porque eu queria que ele apoiasse a Dilma. (Sim, a Dilma. Algum problema? Comentários estão aqui embaixo pra isso). É por decepção e vergonha alheia que posto este texto. É porque estou calada há muito tempo, e triste com a baixaria e os ataques de ambos os lados. Cansei de esperar propostas, o que tenho visto é intolerância e pessoas defendendo suas opiniões com mais afinco do que discutem futebol ou religião.

"Cada povo tem o governante que merece", e é disso que eu mais tenho medo.

1 de outubro de 2010

A carência nossa de cada dia

"Oi, meu nome é Sarah e não me apaixono há um mês"
Essa seria uma ótima frase pra começar o grupo de ajuda. Está aberta mais uma sessão da Associação das Pessoas que se Apaixonam Demasiadamente! (É, APAD. Pode ser...)

Meu último post foi sobre contos de fadas, príncipes encantados, desilusões e coisas assim. Eu não queria - de verdade - bater de novo na mesma tecla, mas parece que o assunto é mais recorrente do que Levy Fidélix e Eymael em horário eleitoral gratuito.

Faz algum tempo que eu tou numa vibe de aprender a ser feliz sozinha. Obviamente muitos fatores contribuíram pra essa condição, mas o principal até então era o famoso "Cansei". Cansei da babaquice alheia, da agenda apertada, da falta de atenção e da atenção excessiva. Cansei de ter que ficar pagando tudo e também de não me deixarem pagar nada. Cansei de ouvir desculpas esfarrapadas, cansei de não ouvir nem mesmo uma desculpa, cansei de ter sempre que inventar desculpas. Cansei da voz estranha, do jeito de andar e do olhar de peixe morto. Cansei da atenção de cachorrinho, das conversas pseudo-filosóficas que não levam a lugar nenhum e do ar de superioridade ao falar, como se cada "vê uma cerveja, garçom" fosse a frase inicial de um discurso.

Depois de me livrar dos encostos pude reorganizar aquilo que ficou: a boa música, os bons amigos, as boas tardes de sábado assistindo TV debaixo das cobertas... antes só do que mal acompanhada.

O problema é: tá, e agora o que eu faço com isso?

PS. Hoje foi um dia meio difícil, e a única coisa que eu queria era ganhar um abraço demorado e ouvir que tudo vai ficar bem. Toda essa independência, hoje, não tá me adiantando muito não. #Comofaz?

26 de setembro de 2010

O tempo é relativo?

O tempo é relativo?

Answer here

Fairy tale

Já disse mais de uma vez que odeio contos de fadas. Minha filha (se um dia eu tiver uma menina) não vai ler contos de fadas. Ela não vai crescer esperando príncipes encantados montados em cavalos brancos (ou em motocicletas pretas, que seja). Talvez isso a poupe da inocência exagerada que por vezes estraga certas relações. (Ou não. Veremos.)

Quando eu era pequena assistia a muitos programas infantis, a maioria deles na TV Cultura. Havia um que se chamava "Contos de fadas", produção muito feliz da americana Shelley Duvall, que trazia convidados ilustres como Anjelica Huston, Robin Williams e outros. Naquela época eu nem sabia quem eram tais figuras, mas hoje foi exatamente um desses artistas que me fez assistir pela milésima vez à história da Bela Adormecida. Christopher Reeve, o eterno SuperMan (em todos os sentidos possíveis) lá estava, vestido de príncipe encantado e empunhando um machado. Tem coisa mais divertida do que descobrir que uma das suas referências nerds mais antigas vem das histórias da infância?

Convido-vos a apreciar a história. Todos os vídeos somam quase uma hora, então sugiro um pote de pipocas e uma cadeira confortável. =)

1:

"Viemos de uma terra muito distante"
"Ah, de fato temos muitos viajantes de lá"

2:

"Todos esses dons, para que servem? Crescer, apaixonar-se, viver feliz para sempre, certo? Ótimo. Besteira! Inútil! Homens, yargh! Amor, ugh! Vocês estão falando de sofrimento, dor no coração, problemas, estão me ouvindo?"

3:

"Príncipe, onde está o seu senso de humor?"
"Francamente, madame, é o seu senso de decência que me interessa."
(...)
"Fique longe das princesas. Elas sempre vão te considerar um tolo."

4:

"Não aperfeiçoe o que já é perfeito."

5:

"Cá entre nós, vamos esperar que haja um príncipe por aí com mais coragem do que juízo."

6:

"Você é meu sonho tornando-se real, ou estarei sonhando agora?"

Depois de tudo isso sobram ainda poucas palavras. Eu devia ter prestado mais atenção na Shelley Duvall do que na Disney. E estou ficando cada vez mais parecida com a fada má do segundo vídeo. E tenho medo disso.

16 de setembro de 2010

5 coisas sobre mim

Era uma vez um Meme, que a Ericka pegou de uma amiga e jogou pra galera. Eu tava no meio dessa galera, então vou ter que responder. A ideia é contar 5 coisas sobre mim que o leitor talvez não saiba. Vamos lá:

1- Eu não sei dizer não. Já lá vai uma boa parte da vida nesse aprendizado de colocar em prática uma simples palavrinha. Um dia eu chego lá.

2- Minha memória é eterna. Tenho uma amiga que costuma dizer que "memória de elefante" é fichinha perto da quantidade absurda de datas e detalhes que eu consigo me lembrar. Claro, como nada pode ser perfeito, só tenho esse dom pra coisas que de alguma forma foram relevantes o suficiente pra guardar.

3- Sou maníaca. (Do Aurélio: s.f. indivíduo possuído de uma mania) Mexer nos cabelos, sorrir só com o canto direito da boca, estalar os dedos, subir o tom da voz enquanto converso, colecionar pedrinhas, juntar tranqueiras... Pensou em alguma mania estranha, pode contar que eu devo ter.

4- Meu sentido-aranha não funciona direito. Sempre que vai acontecer alguma coisa ruim comigo eu começo a ver as coisas em câmera lenta. Mais ou menos dois segundos antes de a bomba estourar eu tenho uma especie de dejà vu em slow motion, que é o tempo exato de pensar "Ih, f*deu". Não dá tempo de dizer nada, não dá tempo de parar de dizer aquilo que eu tava dizendo, não dá tempo de fechar a mão e dar o soco primeiro. Serve apenas pra que eu saiba com certeza que seja-lá-o-que-estiver-acontecendo não foi uma boa ideia.

5- Autosabotagem. A gente vê por aqui.

Chamo à berlinda as queridíssimas DanyValente e MariMari. Convoco também o habitante do lado esquerdo do peito Gui Iacovino e a carioca gente-fina FabiRuiva pra completar a galere. Beijos.

28 de agosto de 2010

Palavras, apenas

Há aquele velho ditado que diz que para uma pessoa ser completa precisa ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro (não necessariamente nesta ordem...) Antropólogos diriam que esta é uma tentativa do indivíduo de perpetuar-se mesmo após sua morte, e discursariam a respeito de todas aquelas constatações que envolvem a tomada de consciência de que não viveremos para sempre. (Eles adoram fazer isso. Talvez porque saibam que eles mesmos não são pessoas tão perenes assim. Pobres antropólogos.)

Pois bem. A árvore pode ser arrancada por estar atrapalhando a passagem de uma nova estrada e o filho pode tomar um caminho totalmente diferente daquele que seus pais trilharam, mas as palavras não serão alteradas... jamais?

Lembrei hoje de três frases que depositei na contracapa de uma edição de bolso dos melhores contos de Edgar Allan Poe. Não importa o que foi escrito, mas veio à mente a singeleza do ato: um livro comprado na revistaria do aeroporto, uma pessoa de partida, uma outra que iria ficar. Três anos e onze meses depois não faço ideia de onde esteja este livro. Foi jogado no lixo num acesso de raiva, em uma tentativa (bem sucedida, diga-se de passagem) de machucar um coração. Não que os bons sentimentos que outrora existissem ainda estejam vivos hoje, mas o que incomoda de fato é que as lembranças também foram apagadas. Como se nunca houvessem existido.

Vejo situações semelhantes em alguns livros que habitam minha estante: palavras que não foram escritas pra mim de pessoas que eu nunca chegarei a conhecer. Tudo que foi parar nos sebos da vida, resgatado por cinco ou dez reais de cada vez. Declarações de amor, de amizade, anotações feitas a lápis; à caneta azul, vermelha, preta. Manchas de óleo, marca-texto pra iluminar as ideias e pedaços de papel marcando páginas que não fazem sentido pra mais ninguém.

Por outro lado lembrei também de um outro livro, uma outra edição de contos de Poe que eu tinha há quase 10 anos e que está hoje perdida. Digo perdida porque foi emprestada a alguém que nunca mais vi. Quem sabe um dia o destino se encarregue de me devolver o exemplar rabiscado, com um poemeto ridículo digno de uma menina de 14 anos sem muita vontade de concluir a leitura. Mais uma vez, não pelo que ali está, mas pelo que algum dia aquilo representou.

Seria interessante poder reciclar palavras, como se reciclam livros...

4 de agosto de 2010

A insustentável intelectualidade da piada

Terça-feira, 17 horas. Em alguma escola no interior do Estado de São Paulo, uma aluna questiona a correção de sua lição de casa:
- Mas nesse exercício aqui o que é que está errado? O nome do livro não é Hamlet?
A professora lê a questão. Pensa na resposta. O método construtivista a impede de simplesmente dizer que faltaram as aspas. Imagina um jeito de fazer a aluna chegar sozinha à conclusão. Com toda a paciência do mundo dá a preciosa dica:
- Que tal ler de novo o trecho do texto? A resposta está lá.
A aluna em questão é uma mulher de seus quase quarenta anos que tem que sair dali a pouco pra buscar sua filha no balé; ela não parece querer saber muito dessa história de descobrir seus próprios erros. Passa os olhos pela folha de papel e pede a resposta de novo. A professora arrisca:
- O nome do livro é esse, mas o que é que está faltando nele?
- Não sei.
Aquelas duas palavrinhas mágicas. A alforria para a professora. Agora, sim, ela poderia dizer a resposta, mas não sem antes (claro!) explicar o motivo.
- Sempre que você fala de um livro, um filme, precisa colocar aspas no nome pra identificar o título desse livro dentro do texto. Entendeu?
- Pra quê?
- Porque se você disser simplesmente que encontrou Hamlet na livraria eu posso pensar que você encontrou o Wagner Moura vestido com roupas shakesperianas, segurando uma caveira no meio da livraria.
A professora esboça um sorriso, já imaginando como seria ficar cara a cara com o ator. A aluna fica em silêncio. Envolve o nome do rei dinamarquês com dois tracinhos à direita, dois tracinhos à esquerda e vira a página. O assunto morre ali.

(Sim, isso aconteceu comigo. Fiquei triste. Achei que a moça ia rir, fazer um comentário espirituoso, dizer qualquer coisa... Nada. Nenhuma reação. E eu só queria um mísero "Hahaha"...)

18 de julho de 2010

Jornalistas

"Vamos, vai?"
"Chama a Dani também"
"Ela disse que não sai de casa por nada no mundo, com esse frio"
"Hum..."

Alguns minutos depois: "Ah, não vou"

Meia hora depois: "Eu vou sim! Te encontro no Trianon!"

(Ah quem dera todas as noites de sexta feira fossem simples de programar!)
***

"Sarah Kelly! Você veio!"
***

"Cara, a classe toda tá aqui! Tem mais gente aqui do que costumava ter nas aulas!"
***

"Vem cá, deixa eu te apresentar minha esposa!"
***

"Tou solteiro há dois anos. Solteiro, sim; sozinho, nunca!"
***

"Tá trabalhando?"
"Não, vou fazer outra faculdade e mudar de profissão"
***

"Lembra daquele dia? ..."
***

"Todos esses são jornalistas?"
***

Reencontro da turma da faculdade. Algum tempo pra rever os mesmos rostos, conversar sobre os rumos que a vida tomou (ou não) e atualizar os abraços - antes diários - da turma.

Posso falar? Foi muito bom. Mesmo com as piadinhas infames que eu preferia que tivessem ficado em 2006. Mesmo com o frio invernal que resolveu se instalar na cidade que não dorme e desmotivar o comparecimento de algumas pessoas. Apesar de tudo a gente ainda sabe se divertir.

Deu saudade, confesso. Mas se fosse pra voltar e fazer de novo, gostaria de poder escolher a mesma turma, de novo. Mil acasos nos colocaram juntos, mas a certeza é que sem eles não teria - como de fato não teve - a mesma graça.

7 de julho de 2010

Carente profissional

Sinto um certo arrepio cada vez que vejo textos ou músicas de algumas pessoas. É uma sensação complicada de descrever, um misto de inveja e adoração que sempre me faz ler mais, ouvir mais, querer mais, querer tudo.

Hoje faz 20 anos que morreu uma dessas pessoas que mexem comigo. Eu tinha quase 3 anos, era nova demais pra sentir algo naquela época, mas hoje consigo aproveitar o que ele deixou e suspirar com as combinações de letra e melodia que às vezes me pegam de jeito. Ora, se a fotografia é capaz de aprisionar a alma da pessoa e a pintura é o segundo nascimento do homem*; por que não pode a música carregar um pedaço da gente?

Cazuza é a trilha sonora perfeita em muitos momentos. Tem sempre alguma estrofe que faz sentido, seja na hora do acontecido ou algum tempo depois, no acontecimento que é lembrado e remoído.

Já fiz uma prova de História inteira com "Ideologia" martelando na cabeça. A professora me fuzilou com o olhar ao passar pela minha carteira e perceber que eu estava cantarolando baixinho a música que na sala ao lado alguém ouvia no último volume. E não adiantou deixar no cantinho da prova, como um pedido de perdão pelo "mau" comportamento, o verso trágico:

Pois aquele garoto | Que ia mudar o mundo | Agora assiste a tudo | Em cima do muro
Minhas infinitas paixões também têm ligação com esse cara da língua presa. Que atire o primeiro headphone quem nunca se pegou com o olhar perdido ao ouvir "Codinome Beija-flor"! Essa ficou marcada por causa de um alguém aí que acho que nem gosta de Cazuza tanto assim. Tem uma outra que ultimamente andou no top 5 das músicas de fossa:

Em que bar será | Que você fica rindo | Daquele amor | Que eu achava lindo?
(Filosofia de calçada)
O fato é que eu gosto tanto dele porque sempre consigo achar sentido nas letras que ele escreveu. O segundo fato é que eu vejo muita coisa dele que EU gostaria de ter escrito. O terceiro fato é que eu mais de uma vez eu gostaria muito de ter prestado atenção àquilo que ele escreveu antes de ter que sentir na pele exatamente aquilo que ele canta. E o quarto e último fato é a semelhança entre o que ele canta e o que eu passo. Chega a dar medo, mas só comprova minha teoria de que só existe uma dúzia de personalidades no mundo todo.

Dias sim, dias não | Eu vou sobrevivendo sem um arranhão | Da caridade de quem me detesta
(O tempo não pára)
Fizeram um filme há alguns anos sobre o Cazuza. Foi bonito, eu assisti no dia da estréia e chorei alguns baldes. Tenho um livro com todas as letras que ele escreveu, coisa de fã consumista. É pena que ele tenha morrido tão cedo, mas mesmo antes de partir deixou um recado importante:
Eu vi a cara da morte | E ela estava viva. | Viva!
____________
*Edgar Morin é o nome do velhinho batuta que disse isso =)

21 de junho de 2010

Entrega

Ultimamente está na moda aconselhar as pessoas com uma frase um pouco absurda, que parece a receita mágica que vai resolver tudo: "Se joga, amiga!"

A gente fala isso pra aquele amigo que tem dúvidas se muda ou não de emprego, pra aquela vizinha que morre de amores pelo carinha da faculdade, pra aquela prima que não sabe se casa ou compra uma bicicleta. A resposta padrão para a grande questão da humanidade ("Vou ou não vou?") hoje em dia é simples: Vai lá, bota a cara, segue em frente!



Admiro muito as pessoas que têm coragem de seguir seus instintos, suas intuições ou mesmo os desejos de seu coração. Admiro porque também sou assim. É extasiante lutar por algo em que se acredita, mesmo que aos olhos do resto do mundo pareça loucura.

Foi assim que atravessei meio mundo. Foi assim que fiz uma faculdade cujo diploma não vale mais nada. Foi assim que acreditei que conseguiria fazer tudo dar certo. Foi assim que abandonei aquilo que me matava.

Estas são palavras de alguém que já se machucou muito. De quem sabe que a vida não é um mar de rosas, mas também tem certeza de que não se vive (feliz) só com os espinhos. Sei que já fiz muito #mimimi com as quedas que tomei, e prometi a mim mesma parar com essa hipocrisia. Não consigo mudar, não consigo me entregar menos. Consigo, no entanto, poupar o mundo das lamúrias repetitivas que nadas constroem.

Eis que mais uma vez é a hora da entrega. Não só pra esta garota crescida que está acordada de madrugada escrevendo um texto e ouvindo Beatles. Outros à minha volta também estão neste momento acordados, pensando em suas próprias decisões. E sabem que precisam ser extremistas, senão nada do que foi planejado funcionará.

Que me desculpem os mais covardes, mas a entrega é essencial.

(O rascunho deste texto surgiu há exatos três meses e meio. Não que esse tempo tenha mudado meu pensamento. Continuo "me jogando", e me entregando a tudo o que faço. Tombos todo mundo leva, e os meus não são nada pequenos, mas... de que outro jeito é possível ganhar se a aposta não for alta?)

17 de junho de 2010

Escudo ou espada?

Um fantasma uma vez me ensinou que a arma mais eficaz para vencer uma discussão com alguém era a verdade. Dizer a verdade certeira na hora mais inconveniente seria, segundo ele, o melhor ataque. Pegar a pessoa desprevenida com algum fato que ela não poderia refutar. Ou até poderia, mas não sem perder muito tempo pensando em alguma resposta que de algum modo distorcesse a realidade. Estamos tão acostumados a mentir uns para os outros que a verdade foi convertida em arma. Parabéns, mundo cruel.

Durante algum tempo guardei este "conselho" comigo, mas não fui capaz de usá-lo. Em duas ocasiões, contra duas pessoas diferentes, achei que simplesmente não valia a pena. Não que eu tenha mentido para elas. Disse toda a verdade. Mas Aquela verdade, a Matadora, que me ensinaram a despejar como um caldeirão de óleo quente na cabeça do outro, essa não consegui dizer.

De fato, a verdade dói. Machuca o confronto com nossos defeitos, nossos erros todos. Machuca mais ainda quando isso vem da boca de outra pessoa que - não raro - levamos em alta consideração. Por ter estado do outro lado, ou por simplesmente ter o coração de manteiga, não tive coragem de jogar na cara alheia tudo aquilo que pensei. Tudo aquilo que todo mundo sabe que é verdade.

Errei? Talvez. Prefiro pensar que não. Afinal, existem tantas "verdades" convivendo por aí hoje em dia, né?

16 de junho de 2010

Far far away


Mania que eu tenho de me apegar a pessoas inalcançáveis.

Quanto mais longe, melhor. Pode ser outro estado, outro país, outra religião, outra filosofia, outra classe social. (Não que eu me importe muito com isso, mas qualquer um que já tenha enfrentado alguma destas diferenças sabe que esses fatores influenciam qualquer decisão.)

Quanto mais longe maior a fantasia. Maior a saudade, maiores os desejos de estreitar laços, maior a cumplicidade e a sinceridade. "Tou saindo pra me divertir, mas tou pensando em você". Claro. O pensamento já basta. Do que mais pode se alimentar um sonho?

"Longe" é uma medida demasiado pequena para a subjetividade.

12 de junho de 2010

Ele

Ele é um cara bacana, e lindo. Ele é o meu melhor amigo. Sempre achei que ele fosse um pouco velho demais pra entender o que se passa na minha cabeça. Engraçado como não sei se percebi que no fundo ele era uma criança grande ou se fui eu que amadureci no meio do processo.

Sempre que eu tenho algum problema tento esconder dele, mas ele acaba descobrindo. Ele sabe o que acontece comigo só de me olhar. Ele é uma pessoa de poucas palavras, mas sempre tem o dom de me dizer verdades simples e pertinentes.

O primeiro buquê de flores que eu ganhei na vida, foi ele que me deu. Ele já me fez chorar milhões de vezes, tenho certeza que ainda vai me fazer chorar mais alguns milhares. Mas aprendi muita coisa com a teimosia e a franqueza por vezes excessiva que ele tem.

É o homem que eu amo há muitos anos. É aquele pra quem eu sempre dou presente no dia dos namorados. Nem que seja um abraço. Nem que seja um post no blog.

Parabéns, pai =)

10 de junho de 2010

Ser forte X parecer forte

Era uma vez uma menina que adorava dormir. Frequentemente acordava queixando-se de dores de cabeça, afinal, qual é a coluna que ficaria confortável com dois travesseiros e treze horas de sono quase imóvel?

Essa menina nunca teve problemas realmente sérios em sua vida. Ou talvez nunca antes tenha se dado conta deles. Quais eram suas grandes tribulações? Provas, trabalhos a entregar, colegas que não gostavam dela, outros que gostavam demais... Nada disso era capaz de lhe tirar o sono. Mas obviamente estamos falando do passado.

"Você é forte", "você aguenta", "você consegue". É o que ela ouve desde sempre, quando apresenta um de seus problemas a alguém. Dos pais, do resto da família, de gente que a conheceu a vida inteira e de gente que achava que a conhecia o suficiente. Reclamava dos problemas e sempre recebia ajuda, no entanto sempre vinha acompanhada de tais palavras. Cresceu querendo muito e conseguindo grande parte do que quis. Nunca duvidou dos votos de confiança que depositavam nela. Sempre soube que conseguiria.

Sim, conseguiria, mas a que custo? Fingindo que era corajosa quando na verdade estava tremendo de medo por dentro? Disfarçando a fraqueza em um frenético ataque kamikaze, sempre querendo chegar ao limite para encontrar força enquanto a dificuldade aumentava?


é...

E a princesa que não acreditava em depressão por vezes sente seu corpo gritar. E o sorriso fácil começa a não vir mais. E a fortaleza desaba, assim como os castelos de areia depois de uma chuva de verão. Ela estava ocupada demais aproveitando a água que caía de cima, quando deveria ter olhado para as ondas que se aproximavam demais dos seus pés.

(É engraçado me preocupar porque não consigo dormir, já que são quase três da manhã e não tenho absolutamente nenhum compromisso para amanhã. Posso dormir o dia inteiro se quiser. Posso ficar o dia todo na cama, olhando pro teto, pensando besteira, lambendo feridas que não têm motivo de existir. Por que, então, não consigo simplesmente fechar os olhos e deixar tudo isso pra depois?)

4 de junho de 2010

Paz

É geralmente aquilo que todos desejam a si mesmos e aos outros na semana entre o Natal e o Ano Novo, certo? "Paz na terra aos homens de boa vontade", e outras frases de efeito que vemos estampadas por aí. Mas será que essa paz consegue durar um ano inteiro pra ser desejada apenas a cada fim de ciclo?

Estamos em Junho. Já se passaram seis meses. Cadê a Paz? Morreu.

Morreu nas palavras duras enviadas e recebidas em inúmeros emails e tweets perdidos por aí. Morreu nos lábios de pessoas que diziam querer o meu bem. Morreu nos gestos de egoísmo, nos palavrões, na falta de empatia. Morreu.

Sold my soul for coins of silver
Yeah I did, so it seems
In a world where love gets colder
There's defeat, in my kiss
(30 coins)

Hoje cedo recebi um convite pra um show neste fim de semana, da banda Pax. Paz? Não para aqueles que não gostam de barulho. As músicas são gritadas, a distorção se faz presente e a bateria não dá descanso. Dá pra reconhecer um pouco de Oficina G3 (nos bons tempos), Living Sacrifice e P.O.D. Interlúdios entre as quatro faixas e as imagens que vêm junto com o EP criam um ambiente propício à reflexão. Paz? Só para aqueles que passam por essa reflexão e percebem que existe muito mais para se preocupar do que um punhado de palavras duras, mentiras e desamor.

Try again, try again,
You will not hurt me today!
(Gates of Death)

Conheci o Arthur (guitarra/vocal) e o Thiago (baixo) há exatamente 7 anos e 4 dias. Duas pessoas maravilhosas que a rotina (ou a falta dela) me impede de ver com a frequência que gostaria. Baixei o álbum e ouvi com muita alegria e orgulho. Os meninos cresceram. Eu cresci. O tempo passou de um jeito que (acho) ninguém esperava. E deu saudade daquela época em que nosso maior medo era não passar no vestibular.

We don't care getting beaten or bruised
we've been to the mountain Top
We refuse to deny the message of the cross
or to sell it out
(Landslide)

Talvez domingo seja dia de rever os meninos. Recomendo, pra quem não estiver fazendo nada e quiser fugir da Parada multicolorida assistindo a um bom show de rock cristão. Clube Sattva, às 15h. R$10. (Flyer AQUI)

25 de maio de 2010

Sobre toalhas e calendários

"Parem o mundo que eu quero descer" (Silvio Brito)

Os dias têm sido meio estranhos ultimamente. Acho que é o inverno chegando. Acho que é a posição da Lua. Acho que é a minha posição.

Dizem que de 2012 não passaremos. Eu já não sei de mais nada. Sei apenas que hoje, 25 de maio, foi o dia da toalha e que contei pelo menos 15 pessoas olhando torto pra mim no metrô. Só porque eu estava com uma toalha nos ombros? E depois dizem que nas grandes cidades como São Paulo as pessoas não reparam umas nas outras. Tinha bastante gente reparando numa maluca portando uma toalha e pronta pra pedir carona em qualquer espaçonave que passasse. Até os Vogons seriam mais cordiais. Parem o mundo que eu quero descer.

Site a todo vapor, campeonato brasileiro bombando, noites maldormidas. Morar longe, viajar todo dia, sonhar com as viagens que quero fazer. Trânsito lento, trânsito devagar-quase-parando e trânsito impossível. Parem o mundo que eu quero descer.

Quase pirando com a falta de noção de pessoas que não deveriam existir nem nos pensamentos, quanto mais nas orações. Sim, eu oro por elas. Embora elas me façam querer vomitar todo o almoço que mal consigo colocar pra dentro. Embora eu tenha errado. Embora eu já tenha pedido perdão a quem era necessário pedir perdão. Parem minha vida porque eles precisam descer dela.

Falando em vida, ninguém quer saber da minha. Posso contar nos dedos as pessoas que realmente se importam comigo. Sim, eu disse que estava tudo estranho. Deve ser Maio. Maio é sempre um problema. Vem logo antes de Junho e Julho. Dizem que é o mês das noivas. Outros dizem que é o mês das mães. Tem muita mulher por aí casando grávida. Sonhei com isso um dia desses.

É, definitivamente: Parem o mundo que eu quero descer.

21 de maio de 2010

Você

Estação Sé, seis da tarde.

Eu estava ouvindo música no metrô (como sempre), quase cochilando, nem percebi direito quando ele entrou. Vi apenas um vulto de barba branca, e já estava me preparando para dar-lhe o meu lugar, quando simplesmente estaquei.

A barba de vários dias por fazer. Os ombros caídos. O nariz, a boca... era você! Não poderia ser, ele devia ter quase o dobro da sua idade. Mas ele tinha o seu jeito de andar. Você nunca vestiria as roupas que ele estava usando. Mas ele tinha o seu olhar. Aquele olhar que há meses não vejo em mais nenhum rosto; algo que era "só seu" até então.

Sensação estranha.

Eu tanto quis poder voltar no tempo e consertar os erros todos, quis apagar cada fotografia e queimar cada pedacinho de lembrança... de repente "você" estava ali... e daí?

Cabe aqui a mais recente (e óbvia) descoberta desta pobre cronista: Você não significa mais nada. Você não é único. E nunca foi especial.

Sou do tempo em que o remédio pra curar feridas ardia como o diabo. Mas depois voltava ao normal, à calma. Tá tudo bem agora.

Daqui pra frente? Não faço ideia. Maio já está no final e eu sinceramente não pretendo pensar mais nisso. E se pensar, posso me lembrar daquele senhor do metrô, vendo sem entender um sorriso de contentamento de uma garota que lhe cedeu o lugar e saiu cantando pelo vagão.

14 de maio de 2010

E o Olho cegou...

Título absurdo pra um trabalho absurdo que fiz junto com uma amiga em 2006: Traçar um paralelo entre o (ótimo) documentário "Janela da Alma" e o livro "Ensaio sobre a cegueira". Tarefa difícil pra alguém cuja visão de mundo se limitava ao eixo São Paulo-Arujá, mais precisamente o trajeto casa-faculdade-casa.

Encontrei o trabalho semana passada, perdido entre um dos muitos backups do meu antigo computador. Segue um trecho muito pertinente.

*****

Outro ponto discutido é: o que é a cegueira? A cegueira ou dificuldade para enxergar não é algo propriamente físico. Hoje existe também a perda do olhar interior, da sensibilidade geral. Um exemplo interessante é do fotógrafo cego Evgen Bavcar, que mostra na película seu processo de trabalho. “Posso vê-la com os olhos da mente”, ele afirma a respeito de uma modelo que estava fotografando. Muitos pensam que não seria capaz de ter um bom trabalho, entretanto, ele “faz as imagens” de modo a provocar reflexão em quem vê suas obras. Ele não enxerga o mundo como os outros o vêem, mas tem a sensibilidade necessária para chocar e comover os que observam suas fotografias.


A pessoa não pode “falar com a língua do outro, ver com os olhos do outro”, pois isso a transforma em um boneco. Segundo Manoel de Barros (um dos entrevistados do documentário), ”os produtos culturais precisam de um espaço para inserirmos os sonhos”. Se for algo fechado não teremos a oportunidade de trabalhar a nossa imaginação e discernimento. A alma deve sair dos olhos, que não são só passivos.


Contudo, em uma sociedade na qual prevalecem opiniões prontas e em grande quantidade, a pessoa perde o espaço crítico (já afetado pelas suas limitações naturais). Ter demais pode ser considerado não ter nada. Já diziam nossas avós, que “Quem tudo quer, tudo perde”. Um homem da Idade Média não consumia durante toda a sua vida o volume de informações que uma pessoa consome hoje, em um dia. A curiosidade vem do jornalista Leão Serva, criador do jornal Último Segundo, no portal Ig. O excesso de informações, imagens, comunicação é uma síndrome do homem pós-moderno. Na era da rapidez são poucas as pessoas que esperam de bom grado que o carro da frente saia só depois de 5 segundos que o farol ficou verde. Que dizer, então, de um carro que permanece parado, e seu motorista atônito gritando lá dentro: “Estou cego”? Tanto o livro quanto o filme nos mostram que perdemos a humanidade, somos hoje humanóides que se multiplicam nas enormes “gigalópoles”.


*****

#Reflitão.

19 de abril de 2010

Sobre bigodes e verdades

Tava ouvindo essa música e me deu um estalo.

Galos, Noites e Quintais

Composição: Belchior

Quando eu não tinha o olhar lacrimoso,
que hoje eu trago e tenho;
Quando adoçava meu pranto e meu sono,
no bagaço de cana do engenho;
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus,
fazendo eu mesmo o meu caminho,
por entre as fileiras do milho verde
que ondeia, com saudade do verde marinho:


Eu era alegre como um rio,
um bicho, um bando de pardais;
Como um galo, quando havia...
quando havia galos, noites e quintais.
Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo
o mal que a força sempre faz.
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais



é...

5 de abril de 2010

Doutor, eu não me engano

"E aí, vô, quanto vai ser o jogo hoje?"

Dois a um pro Timão. Foi a sentença do senhor de 80 anos que me despertou o gosto pelo Corinthians desde que me entendo por gente. Sentenciou e ainda completou: "Ituano é um time bom, tem uns dois caras lá que jogam pra caramba. De que adianta o Corinthians ter um monte de caras bons se eles não fazem nada?"

Passei o primeiro tempo sentada ao lado dele, vendo um desfile de pernas desencontrdas e pés tortos chutando pra fora das quatro linhas brancas. O menino Moacir perdeu um gol fácil por querer usar a canela ao invés da cabeça. O experiente Ronaldo pode até ser ídolo, mas pouco conseguia fazer para alegrar a Fiel Torcida.

Como nem tudo pode ser ruim, o goleiro Rafael Santos parecia finalmente ter entrado nos eixos. Em contrapartida o goleiro do Ituano, Éder, defendia as traves com a ajuda de praticamente todo o time. A zaga era pequena pra tantos atletas vestindo a camisa listrada vermelha e preta. Roberto Carlos tentava, tentava, mas sempre passava pra alguém que não conseguia finalizar. Nenhum gol em quarenta e cinco minutos sob o sol de São José do Rio Preto.

Segundo tempo, mais erros que poderiam ser evitados, e mais comentários do senhor grisalho que fingia não se abalar muito ao ver o iminente empate do seu time do coração com o ocupante do décimo quinto lugar na tabela. "O Ituano é um time bom, bateu o Palmeiras", justificava. Não, não bateu. Só empatou. Três a três contra o time que já há algumas rodadas consegue levar surras épicas dentro de seu próprio campo. O mesmo Ituano que sofreu nove gols da molecada do Santos. Não é justo que este Ituano impeça o meu Corinthians de voltar pro G4.

Aos 80 minutos veio o primeiro grito que estava preso na garganta, pela cabeçada certeira de Jucilei. Cinco minutos depois o Fenômeno finalizava uma bela jogada de Tcheco. Pronto, o Corinthians já havia feito os dois gols da previsão e ainda não havia sofrido nenhum. Por mais que eu quisesse que meu avô estivesse certo, preferi torcer pra acabar logo a partida, antes que o terceiro goleiro do Corinthians perdesse a mão e deixasse a redonda vazar até o fundo da rede.

Felizmente Chronos e todas as outras entidades que controlam o andar dos ponteiros resolveram aliviar um pouco a minha tensão. O tempo voou, assim como voavam bolas de um lado e de outro do campo, num último esforço para aumentar o placar, fosse em que lado fosse.

Apita o árbitro, termina o embate. Dois a zero foi o placar, com muito sofrimento... mas não era disso que se alimentava o coração corinthiano?

12 de março de 2010

Descansa, coração.



Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder

Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão

Não sei pra onde vou
Não sei
Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar
Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz

4 de março de 2010

Sísifo feelings




Sabe a pedra? Rolou lá pra baixo...

E eu não tou com a mínima vontade de descer pra pegar.

Mas vamos a isso. Volta o cão arrependido pra buscar o que é seu.

Afinal de contas, não resta muito mais do que ler, ouvir, cantar, beber, dormir e - às vezes - amar.

23 de fevereiro de 2010

A cura.

A cabeça ociosa trabalhou por toda uma tarde. Pensamentos novos e antigos se misturam no caldeirão de dúvidas que insiste em fervilhar a cabeça e fazer ferver o estômago. Mais uma noite insone começa.

Após alguma luta e umas quantas pílulas "mágicas" o corpo finalmente cede ao cansaço. (Não que não houvesse cedido antes, mas desta vez a mente lhe dá trégua e finalmente se desliga.)

Sonhos (pesadelos) bizarros, com gente querida e distante (ou não). Histórias que se repetem em loop quase infinito por noites e mais noites, evidenciando a angústia do coração que passa o dia todo a mentir que está tudo ok. Todas as noites são iguais, e não há para onde fugir de si mesmo.

O primeiro despertador toca, menos de 4 horas depois dos primeiros efeitos do remédio para dormir. ("É fraquinho, fitoterápico, não faz mal nenhum", diz todas as vezes em que rompe o lacre platinado da embalagem para mais uma dose de relaxantes musculares e substâncias calmantes)

O segundo despertador toca, cinco minutos depois. O primeiro despertador volta a responder, mesmo depois de ter levado um enorme tapa. "CALA A BOCA E ME DEIXA DORMIR!" implora ela.

A consciência pesada é recobrada embaixo d'água. Um banho rápido pra colocar as ideias em ordem e tentar fazer com que o mal desça pelo ralo junto com a água suja que cai de seu corpo. Inútil. Irreversível. O tempo passou e não há mais espaço para um café antes de enfrentar a rua.

Cabeça cheia, estômago vazio. Gastrite. Náusea. Dor. Como se a dor física pudesse aplacar o espírito irrequieto. Como se tudo não passasse de um sonho mau.

27 de janeiro de 2010

formspring.me

Se você pudesse mudar algo do passado, mudaria oq?

Tanta coisa que nem sei por onde começar. Mas acho que em qualquer evento que eu mudasse acabaria fazendo tudo do mesmo jeito. Só hoje percebo que certos passos que inicialmente pareceram errados eram importantes demais pra não acontecerem. E se amadureci e cresci foi principalmente por causa dos erros que cometi.

e então?

8 de janeiro de 2010

Mentiram pra mim

Há anos ouço e gosto dessa música do vídeo abaixo. Há anos canto junto cada palavra, tentei uma vez até tirar no violão, mas desisti no segundo tropeço. Até que veio uma daquelas fases mais complicadas, de ficar ouvindo certas músicas e pensando a cada minuto "esse cara fez essa letra pra mim" ou "ele tá me espionando, quem contou a minha história pra ele?"

E um certo dia me peguei cantarolando a faixa em questão, "Relicário", que diz:


O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por esta noite

Porque está amanhecendo?
Peço o contrario, ver o sol se por

Nessa hora me lembrei por que gosto tanto do Nando Reis. Ele canta os desejos que tenho quase todas as noites. Quantas vezes já não quis ver a lua ao invés do sol, por necessidade de mais tempo ou por noites passadas em claro a troco de nada. (E quantas vezes fui frustrada, porque quanto mais eu queria que o tempo se arrastasse mais ele corria e trazia a claridade da manhã) Ele canta as maluquices que eu faria, ou quase fiz. Eternidade não é algo que se use como moeda de troca, mas não é difícil entrar por caminhos errados e acabar se afastando dAquele que pode garantir pra sempre o seu descanso.

Infelizmente, meu querido ruivo, dessa vez você mentiu pra mim. Fico, pois, com o despertar de um novo dia. Que o sol se ponha apenas em seu momento, porque eu ainda preciso recolher a bagunça e preparar minha cama.


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