25 de maio de 2010

Sobre toalhas e calendários

"Parem o mundo que eu quero descer" (Silvio Brito)

Os dias têm sido meio estranhos ultimamente. Acho que é o inverno chegando. Acho que é a posição da Lua. Acho que é a minha posição.

Dizem que de 2012 não passaremos. Eu já não sei de mais nada. Sei apenas que hoje, 25 de maio, foi o dia da toalha e que contei pelo menos 15 pessoas olhando torto pra mim no metrô. Só porque eu estava com uma toalha nos ombros? E depois dizem que nas grandes cidades como São Paulo as pessoas não reparam umas nas outras. Tinha bastante gente reparando numa maluca portando uma toalha e pronta pra pedir carona em qualquer espaçonave que passasse. Até os Vogons seriam mais cordiais. Parem o mundo que eu quero descer.

Site a todo vapor, campeonato brasileiro bombando, noites maldormidas. Morar longe, viajar todo dia, sonhar com as viagens que quero fazer. Trânsito lento, trânsito devagar-quase-parando e trânsito impossível. Parem o mundo que eu quero descer.

Quase pirando com a falta de noção de pessoas que não deveriam existir nem nos pensamentos, quanto mais nas orações. Sim, eu oro por elas. Embora elas me façam querer vomitar todo o almoço que mal consigo colocar pra dentro. Embora eu tenha errado. Embora eu já tenha pedido perdão a quem era necessário pedir perdão. Parem minha vida porque eles precisam descer dela.

Falando em vida, ninguém quer saber da minha. Posso contar nos dedos as pessoas que realmente se importam comigo. Sim, eu disse que estava tudo estranho. Deve ser Maio. Maio é sempre um problema. Vem logo antes de Junho e Julho. Dizem que é o mês das noivas. Outros dizem que é o mês das mães. Tem muita mulher por aí casando grávida. Sonhei com isso um dia desses.

É, definitivamente: Parem o mundo que eu quero descer.

21 de maio de 2010

Você

Estação Sé, seis da tarde.

Eu estava ouvindo música no metrô (como sempre), quase cochilando, nem percebi direito quando ele entrou. Vi apenas um vulto de barba branca, e já estava me preparando para dar-lhe o meu lugar, quando simplesmente estaquei.

A barba de vários dias por fazer. Os ombros caídos. O nariz, a boca... era você! Não poderia ser, ele devia ter quase o dobro da sua idade. Mas ele tinha o seu jeito de andar. Você nunca vestiria as roupas que ele estava usando. Mas ele tinha o seu olhar. Aquele olhar que há meses não vejo em mais nenhum rosto; algo que era "só seu" até então.

Sensação estranha.

Eu tanto quis poder voltar no tempo e consertar os erros todos, quis apagar cada fotografia e queimar cada pedacinho de lembrança... de repente "você" estava ali... e daí?

Cabe aqui a mais recente (e óbvia) descoberta desta pobre cronista: Você não significa mais nada. Você não é único. E nunca foi especial.

Sou do tempo em que o remédio pra curar feridas ardia como o diabo. Mas depois voltava ao normal, à calma. Tá tudo bem agora.

Daqui pra frente? Não faço ideia. Maio já está no final e eu sinceramente não pretendo pensar mais nisso. E se pensar, posso me lembrar daquele senhor do metrô, vendo sem entender um sorriso de contentamento de uma garota que lhe cedeu o lugar e saiu cantando pelo vagão.

14 de maio de 2010

E o Olho cegou...

Título absurdo pra um trabalho absurdo que fiz junto com uma amiga em 2006: Traçar um paralelo entre o (ótimo) documentário "Janela da Alma" e o livro "Ensaio sobre a cegueira". Tarefa difícil pra alguém cuja visão de mundo se limitava ao eixo São Paulo-Arujá, mais precisamente o trajeto casa-faculdade-casa.

Encontrei o trabalho semana passada, perdido entre um dos muitos backups do meu antigo computador. Segue um trecho muito pertinente.

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Outro ponto discutido é: o que é a cegueira? A cegueira ou dificuldade para enxergar não é algo propriamente físico. Hoje existe também a perda do olhar interior, da sensibilidade geral. Um exemplo interessante é do fotógrafo cego Evgen Bavcar, que mostra na película seu processo de trabalho. “Posso vê-la com os olhos da mente”, ele afirma a respeito de uma modelo que estava fotografando. Muitos pensam que não seria capaz de ter um bom trabalho, entretanto, ele “faz as imagens” de modo a provocar reflexão em quem vê suas obras. Ele não enxerga o mundo como os outros o vêem, mas tem a sensibilidade necessária para chocar e comover os que observam suas fotografias.


A pessoa não pode “falar com a língua do outro, ver com os olhos do outro”, pois isso a transforma em um boneco. Segundo Manoel de Barros (um dos entrevistados do documentário), ”os produtos culturais precisam de um espaço para inserirmos os sonhos”. Se for algo fechado não teremos a oportunidade de trabalhar a nossa imaginação e discernimento. A alma deve sair dos olhos, que não são só passivos.


Contudo, em uma sociedade na qual prevalecem opiniões prontas e em grande quantidade, a pessoa perde o espaço crítico (já afetado pelas suas limitações naturais). Ter demais pode ser considerado não ter nada. Já diziam nossas avós, que “Quem tudo quer, tudo perde”. Um homem da Idade Média não consumia durante toda a sua vida o volume de informações que uma pessoa consome hoje, em um dia. A curiosidade vem do jornalista Leão Serva, criador do jornal Último Segundo, no portal Ig. O excesso de informações, imagens, comunicação é uma síndrome do homem pós-moderno. Na era da rapidez são poucas as pessoas que esperam de bom grado que o carro da frente saia só depois de 5 segundos que o farol ficou verde. Que dizer, então, de um carro que permanece parado, e seu motorista atônito gritando lá dentro: “Estou cego”? Tanto o livro quanto o filme nos mostram que perdemos a humanidade, somos hoje humanóides que se multiplicam nas enormes “gigalópoles”.


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#Reflitão.
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