21 de maio de 2011

Your song

Aqui em casa as mulheres são prendadas. Aprendi com minha mãe, que aprendeu com a minha avó, que aprendeu com a minha bisavó, etc etc etc. A máquina de costura nunca passa muito tempo parada, seja pra fazer roupas, panos de prato ou chaveirinhos. Eis que a "obra de arte" da vez é uma colcha de patchwork.

Patchwork é uma coisa que parece simples mas dá um puta trabalho. Tem que cortar o tecido em pedaços, costurar pedaços pra formar blocos, costurar blocos pra montar todo o quebra-cabeça, fazer o forro, rechear com manta acrílica e depois alinhavar tudo de novo pra ficar fofinho como se deve. É nessa parte do alinhavo (aka quilting) que eu sempre entro pra ajudar, porque é a única parte em que eu posso costurar de um lado e a minha mãe do outro sem que uma atrapalhe a outra.

Ontem à noite eu resolvi pegar na linha e na agulha. Minha mãe tem um rádio que fica na sala de costura, sempre sintonizado na Alpha FM. Segue o diálogo:

- É, filha, você tem razão.
- Razão de quê?
- A Alpha tem só 200 músicas, que eles repetem sempre. Já tou há três dias aqui e não aguento mais ouvir a mesma coisa.
- Então põe um CD aí.

Pus a coletânea dos Beatles pra tocar. Não é o meu CD preferido, não era exatamente o que eu gostaria de estar ouvindo, mas agradaria aos ouvidos gerais naquele momento. Alguns minutos depois eu já estava entretida com o trabalho, comecei a cantar.

Last night I said these words to my girl
I know you never even try girl...

Minha mãe ficou me olhando, nostálgica, surpresa ou sei-lá-o-quê. "Eu nunca imaginei minha filha cantando uma música que eu gostava de ouvir quando tinha a idade dela."

Ok, são 32 anos de diferença. Não imagino minha filha fazendo coisas que eu faço hoje, mas também não consigo pensar no tipo de música que ela vai gostar, nas roupas que ela vai vestir e nos programas que ela vai fazer. Só espero que o tempo seja bonzinho comigo e não transforme Restart e Justin Bieber em "clássicos".

10 de maio de 2011

A dama e o vagabundo

Você é certinha demais pra mim. Ou talvez eu é que seja largado demais pra você.

Você se arruma toda, pinta as unhas de vermelho, passa batom e finge que me engana dizendo que só faz isso porque está com os lábios rachados de frio. Sei bem o frio que eu sinto quando você me olha daquele jeito fundo, procurando ver lá dentro algo que está estampado na minha testa faz tempo.

Você ri de um jeito tão sincero que eu até me envergonho do meu riso amarelo com borrachinhas verdes. Principalmente depois que você, corinthiana roxa, já disse que não gosta de verde. Eu sei que não foi pra mim, mas até a próxima visita ao dentista eu juro que não abro um sorriso pra você!

Você tem aquela mania besta - que eu adoro - de ficar cantarolando baixinho qualquer música que esteja grudada na sua cabeça. E que repertório! De Beatles a Falcão, nada escapa. Quando não conheço eu faço cara de paisagem porque sei que você vai me dizer quem, de onde, de quando, qual o estilo e o melhor cd pra eu ouvir. Quando eu já conheço até tento cantar junto, só por dentro, mas o nosso dueto ainda precisa de muitos ensaios pra uma apresentação digna.

Você finge que não se importa quando eu não te dou atenção, mas depois fica arranjando qualquer desculpa pra falar comigo. Eu evito de propósito, e não pense que dói menos em mim cada vez que eu sumo sem dar explicação.

Isso porque eu sou esse bicho desengonçado que veste sempre a mesma camiseta surrada dos Ramones e ainda gosta de assistir Simpsons. Que não faz nada direito e morre de medo de realmente nada dar certo no fim das contas. Eu sou apenas um rapaz latino americano com alguns trocados no bolso e vontade de te levar pra bem longe daqui. Você iria?

(Lúcio Paulo - 10/05/2011)
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