She spent all the day in completely sadness. She woke up as well as possible, took a long shower, but when she took the bus to go to work, a call made her face transform. It was him.
"Hello, where are you?" - That voice... He was upset.
"I'm on the way. Will be with you in 30 minutes"
"30 minutes? What happened? Why are you so late?"
"I had a nightmare. Just this."
"And so you woke up later..."
"Yes, ... and now I'm going! Wait a few minutes..." - She tried to put some happyness in her words. Didn't work.
"Ok. (click)"
She definitely doesn't understand why he does those things with her. Why was he talking that way? HE was leaving in the next day, not she. What was the problem with him? If he doesn't wanted to stay without her, why did he buy that dawn plane ticket? Ok, was a gift, but, why didn't he refuse?
Well, that's it. He left 1 hour ago, and from now until monday she is alone. Ok, not alone at all, but a piece will be missing. In the actual circumstances he may think that doesn't mater, that is just another weekend. But she knows that it won't be. They had a cold farewell, and she is now thinking about this. In half an hour she's going to a date with a special guy, and she's almost, but not exactly, completely different from a good company today... What's she going to do now???
Thanks, he. You messed up all her life. Again.
Traduzindo e trocando em miúdos: O dia começou bem para ela, que de repente se lembrou que ia ser abandonada. Logo, seu dia foi por água abaixo e sua noite periga ser um desastre. What a life...
Janis Joplin - Leaving on a jet plane
Sarah Kelly escreve neste blogue quando lhe é permitido. Ela quer que as pessoas ouçam o que ela tem a dizer, mesmo que muitas vezes tudo só faça sentido para ela mesma.
17 de dezembro de 2008
15 de dezembro de 2008
Só pela diversão
Esta é uma brincadeira que eu tirei do blog do Augusto, que provavelmente nem me conhece, mas eu o conheço graças ao twitter... Já participei dela antes, mas foi em outro blog. É bem fácil e não leva mais que dois minutos:
- Pega no livro mais próximo.
- Abre na página 56.
- Procura a quinta frase.
- Coloca um post no teu blog com o texto e seguido destas instruções.
- Não escolhas o teu livro favorito, o mais cool ou o mais intelectual: apenas o mais PRÓXIMO.
"Sentia-se forte, sentia-se saudável. Pegou uma pá e jogou fora as correspondências inúteis vigorosamente." (Até mais, e obrigado pelos peixes - Douglas Adams)
Besos a todos
16 de novembro de 2008
Quem sabe um dia
As duas conversavam no ponto de ônibus. Mais um dia estressante de trabalho acabara de chegar ao fim. A pauta: os homens – esses seres tão terríveis, mal-educados, insensíveis; mas tão capazes de resolver todos os problemas do mundo quando estão por perto.
Já fazia um tempo que ela precisava arrumar um desses seres complicados para chamar de “seu”. A amiga – sempre preocupada, como toda boa amiga deve ser – elencava possíveis pretendentes, todos rejeitados por ela: “Esse só vai querer uma noite. Aquele é enrolado demais, vai me dar muita dor de cabeça”. E assim prosseguia a conversa, quando de repente o celular tocou.
- É ele (previu a amiga, coberta de certeza)
- Como você sabe? (Devolveu ela, não percebendo a obviedade de tal situação)
Estranho seria se não fosse ele.
Ela parou por um momento. Não queria atender a ligação. Aquele nome registrado pelo identificador de chamadas causava nela um estranho sentimento. Não era amor, nem ódio, nem uma mistura dos dois. A sensação era de euforia, porém o coração não batia mais rápido e as mãos não suavam. Pelo contrário, tremiam. Se fôssemos classificá-lo, ele ocuparia toda a gama possível de sentimentos, passando entre os mais nobres e vis.
- Oi, fala (Já estava desanimada, sabia que alguma coisa havia acontecido, pra ele ligar àquela hora, sendo que estiveram lado a lado a tarde toda, e ele havia saído há meia hora, para encontrar a namorada)
- Onde você está? (‘Onde você está’ era sempre a primeira frase que ele dizia ao telefone. ‘Alô’, ‘Oi’ e ‘Como vai’ já haviam perdido o sentido)
- Esperando o ônibus com a amiga. Aconteceu alguma coisa?
- Não, acabei de chegar em casa, só queria saber de você.
- Queria saber de mim? Eu tou chateada com você.
- Por que? Que foi que eu fiz?
- Você me largou.
- Desculpa, não dava pra esperar.
- Eu sei, por isso estou chateada com você.
- Não posso fazer nada. (Silêncio) ...desculpa.
- Poder, você pode. Mas não hoje.
- (Silêncio)... Tá bom, desculpa, fico te devendo mais uma.
- Tenho que desligar agora.
A amiga ouviu tudo, e já estava cansada daquele diálogo. Sempre a mesma ladainha, ‘fico te devendo’, ‘desculpa’ era suficiente pra fazer ela ficar mais tranqüila. O problema é que só ela não via o que ele fazia com ela. Ou, se via, ignorava.
- Porque você está triste? (A amiga já sabia a resposta, mas ainda assim precisava perguntar. Era sua função de amiga fazer essa pergunta)
- Nada, não, só cansada, foi um dia cheio (Ela mentia descaradamente, certa de que surtiria efeito)
- Mentira. Agora me conta, por que você mente?
- Pra não te preocupar com os meus problemas.
- E por que eu não posso me preocupar com seus problemas, se você aparentemente não se preocupa?
- Por que eu não quero preocupar ninguém com eles.
- E quando você vai começar a se preocupar mais com você e parar de se preocupar com os outros?
Ela parou. Sabia que já havia passado da hora de se preocupar consigo. Sabia que não era fácil levar aquela vida, e muito menos fácil quando ela mesma não se permitia abertura para refletir a respeito de seus próprios problemas, mas... cadê coragem?
Já fazia um tempo que ela precisava arrumar um desses seres complicados para chamar de “seu”. A amiga – sempre preocupada, como toda boa amiga deve ser – elencava possíveis pretendentes, todos rejeitados por ela: “Esse só vai querer uma noite. Aquele é enrolado demais, vai me dar muita dor de cabeça”. E assim prosseguia a conversa, quando de repente o celular tocou.
- É ele (previu a amiga, coberta de certeza)
- Como você sabe? (Devolveu ela, não percebendo a obviedade de tal situação)
Estranho seria se não fosse ele.
Ela parou por um momento. Não queria atender a ligação. Aquele nome registrado pelo identificador de chamadas causava nela um estranho sentimento. Não era amor, nem ódio, nem uma mistura dos dois. A sensação era de euforia, porém o coração não batia mais rápido e as mãos não suavam. Pelo contrário, tremiam. Se fôssemos classificá-lo, ele ocuparia toda a gama possível de sentimentos, passando entre os mais nobres e vis.
- Oi, fala (Já estava desanimada, sabia que alguma coisa havia acontecido, pra ele ligar àquela hora, sendo que estiveram lado a lado a tarde toda, e ele havia saído há meia hora, para encontrar a namorada)
- Onde você está? (‘Onde você está’ era sempre a primeira frase que ele dizia ao telefone. ‘Alô’, ‘Oi’ e ‘Como vai’ já haviam perdido o sentido)
- Esperando o ônibus com a amiga. Aconteceu alguma coisa?
- Não, acabei de chegar em casa, só queria saber de você.
- Queria saber de mim? Eu tou chateada com você.
- Por que? Que foi que eu fiz?
- Você me largou.
- Desculpa, não dava pra esperar.
- Eu sei, por isso estou chateada com você.
- Não posso fazer nada. (Silêncio) ...desculpa.
- Poder, você pode. Mas não hoje.
- (Silêncio)... Tá bom, desculpa, fico te devendo mais uma.
- Tenho que desligar agora.
A amiga ouviu tudo, e já estava cansada daquele diálogo. Sempre a mesma ladainha, ‘fico te devendo’, ‘desculpa’ era suficiente pra fazer ela ficar mais tranqüila. O problema é que só ela não via o que ele fazia com ela. Ou, se via, ignorava.
- Porque você está triste? (A amiga já sabia a resposta, mas ainda assim precisava perguntar. Era sua função de amiga fazer essa pergunta)
- Nada, não, só cansada, foi um dia cheio (Ela mentia descaradamente, certa de que surtiria efeito)
- Mentira. Agora me conta, por que você mente?
- Pra não te preocupar com os meus problemas.
- E por que eu não posso me preocupar com seus problemas, se você aparentemente não se preocupa?
- Por que eu não quero preocupar ninguém com eles.
- E quando você vai começar a se preocupar mais com você e parar de se preocupar com os outros?
Ela parou. Sabia que já havia passado da hora de se preocupar consigo. Sabia que não era fácil levar aquela vida, e muito menos fácil quando ela mesma não se permitia abertura para refletir a respeito de seus próprios problemas, mas... cadê coragem?
5 de outubro de 2008
Candidatos porcalhões & cia.
Não há coisa mais contraditória do que ser "convocado" a trabalhar como mesário nas eleições (sejam municipais ou estaduais/federais). Tudo começa com o agente da justiça eleitoral batendo à porta de sua humilde casa e entregando um papel que diz que "o serviço eleitoral é obrigatório e tem preferência sobre qualquer outro. O faltoso sujeitar-se-á às penas dos artigos 124 e 344 do código eleitoral"... Isso significa pagar multa de meio salário-mínimo e até mesmo pena de reclusão, de no máximo dois meses. Dá até pra imaginar a cena, dois sujeitos conversando dentro de uma cela:
"Fez o quê pra estar aqui?"
"Matei dois, e você?"
"Fugi do serviço de mesário"
... Bizarro, não? Para amenizar a situação e o clima de ameaça, a pessoa que se dispuser (ou que for obrigada) a passar seu domingo em uma sala de alguma escola de votação tem direito a folga do dobro de dias em que ficou à disposição da Justiça Eleitoral. "Ao menos eu descanso um pouco..." (frase real pronunciada por um dos mesários)
Como se não bastassem os fiscais de partido, que ficam estrategicamente posicionados nos locais de votação para conferir se outras pessoas (além deles) estão fazendo propaganda boca-de-urna, existe também uma outra modalidade muito peculiar de tentar angariar os votos dos indecisos de última hora: os famosos "santinhos".
Santinho é aquele pedaço de papel que a gente pega na rua e joga na primeira lixeira, porque político tem a mesma cara de paisagem em qualquer fotografia. Santinho serve como papel de rascunho, principalmente se o candidato não tem muita verba pra campanha e só imprime um lado do cartão. Serve pra fazer origami, colagem, bolinha de futebol de botão, ou o que a imaginação mandar. Serve também pra jogar em frente à escola, no sábado à noite, dia anterior ao da eleição.
Hoje o portão da escola em que eu fui trabalhar (em Arujá/SP) estava assim: repleto de santinhos. Choveu bastante durante toda a noite, então todos os pedaços de papel já estavam devidamente encharcados. Agora, eu pergunto: o que esses candidatos ganham com essa propaganda suja (em todos os sentidos)? Será que eles pensam que alguém vai realmente olhar para o chão, pegar um desses papéis e votar?
Como boa causadora de problemas que sou, não podia ficar de fora. Segue, abaixo, a lista dos candidatos que sujaram a rua. Deveriam ser obrigados a recolher tudo, mas acredito que uma impugnação de sua candidatura fosse, na verdade, a melhor solução. Quem sabe, também, uma temporada na cadeia, só pra marcar bastante a lição a ser aprendida (e a ficha criminal do sujeito). Se os mesários que fogem são punidos, por que não os candidatos? Voltemos à cela:
"Por que você está aqui?"
"Assaltei um banco. E você?"
"Joguei santinhos na porta da escola"
--------------------------------------
Candidatos a vereador porcalhões:
10123 – Dr. Marcio Oliveira
11622 – Lucia
13031 – Solange Rodrigues
13123 – Profª Chrystiane
13400 – Eloisa
14000 – Ailton do Sindicato
14070 – Luis Leite
14212 – Cleber da COK
14222 – Flavia Sanches
14333 – Eliene
15015 – Maria do Rosário
15111 – Venancio Beer Box
15633 – Jussival
15699 – Cidinha Aniceto
22672 – Cocera Cabelo
23223 – Theodoro Powerbat-Bateria
23300 – Elisângela
25010 – Tom
25123 – Hassune Doceria Prazer
25400 – Gabriel
33333 – Serginho Beleza
43123 – Ifigenia Oliveira
45000 – Edson da Auto escola
45622 – Betinho do Emilia
45650 – Ariane Luongo
"Fez o quê pra estar aqui?"
"Matei dois, e você?"
"Fugi do serviço de mesário"
... Bizarro, não? Para amenizar a situação e o clima de ameaça, a pessoa que se dispuser (ou que for obrigada) a passar seu domingo em uma sala de alguma escola de votação tem direito a folga do dobro de dias em que ficou à disposição da Justiça Eleitoral. "Ao menos eu descanso um pouco..." (frase real pronunciada por um dos mesários)
Como se não bastassem os fiscais de partido, que ficam estrategicamente posicionados nos locais de votação para conferir se outras pessoas (além deles) estão fazendo propaganda boca-de-urna, existe também uma outra modalidade muito peculiar de tentar angariar os votos dos indecisos de última hora: os famosos "santinhos".
Santinho é aquele pedaço de papel que a gente pega na rua e joga na primeira lixeira, porque político tem a mesma cara de paisagem em qualquer fotografia. Santinho serve como papel de rascunho, principalmente se o candidato não tem muita verba pra campanha e só imprime um lado do cartão. Serve pra fazer origami, colagem, bolinha de futebol de botão, ou o que a imaginação mandar. Serve também pra jogar em frente à escola, no sábado à noite, dia anterior ao da eleição.
Hoje o portão da escola em que eu fui trabalhar (em Arujá/SP) estava assim: repleto de santinhos. Choveu bastante durante toda a noite, então todos os pedaços de papel já estavam devidamente encharcados. Agora, eu pergunto: o que esses candidatos ganham com essa propaganda suja (em todos os sentidos)? Será que eles pensam que alguém vai realmente olhar para o chão, pegar um desses papéis e votar?
Como boa causadora de problemas que sou, não podia ficar de fora. Segue, abaixo, a lista dos candidatos que sujaram a rua. Deveriam ser obrigados a recolher tudo, mas acredito que uma impugnação de sua candidatura fosse, na verdade, a melhor solução. Quem sabe, também, uma temporada na cadeia, só pra marcar bastante a lição a ser aprendida (e a ficha criminal do sujeito). Se os mesários que fogem são punidos, por que não os candidatos? Voltemos à cela:
"Por que você está aqui?"
"Assaltei um banco. E você?"
"Joguei santinhos na porta da escola"
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Candidatos a vereador porcalhões:
10123 – Dr. Marcio Oliveira
11622 – Lucia
13031 – Solange Rodrigues
13123 – Profª Chrystiane
13400 – Eloisa
14000 – Ailton do Sindicato
14070 – Luis Leite
14212 – Cleber da COK
14222 – Flavia Sanches
14333 – Eliene
15015 – Maria do Rosário
15111 – Venancio Beer Box
15633 – Jussival
15699 – Cidinha Aniceto
22672 – Cocera Cabelo
23223 – Theodoro Powerbat-Bateria
23300 – Elisângela
25010 – Tom
25123 – Hassune Doceria Prazer
25400 – Gabriel
33333 – Serginho Beleza
43123 – Ifigenia Oliveira
45000 – Edson da Auto escola
45622 – Betinho do Emilia
45650 – Ariane Luongo
27 de agosto de 2008
Conto de fadas moderno
Ela entrou no elevador e apertou o botão do térreo. Virou-se para trás, olhou o espelho e não se reconheceu. A primeira lágrima cortou o lado esquerdo de sua face. Até onde isso iria levá-la?
Ela estava sozinha agora.
“Prefiro morrer, a ter que te agüentar por mais um dia”, fora a frase que havia fechado a noite. O eco de cada palavra a fazia soluçar, mas ela ainda precisava passar pela portaria e enfrentar três ônibus até chegar em casa. Não podia se dar ao luxo de soluçar. Logo ela, que nunca gostou de chorar em público, estava do outro lado da cidade em prantos.
Passou apressada pela portaria, aproveitando a chegada de um entregador de pizza que segurou o portão para ela. Nem ao menos agradeceu, ou deu “boa noite” ao porteiro que, desde o momento em que ela havia chegado, sabia que as coisas não estavam bem. Ela não conseguia mais pensar em nada.
Eram quase dez da noite de uma sexta-feira que definitivamente não terminou bem. todos já haviam saído do trabalho, mas ela tinha que trabalhar mais, seus horários não eram normais como o de todos os outros; seu trabalho também não era normal. Para dizer a verdade, o que se pode chamar de "normal" é algo que ela nunca gostou, e uma palavra que ultimamente representa exatamente o antônimo do que se transformou sua vida.
Tirou o celular do bolso, à medida em que suas lágrimas ficavam mais grossas. Acendeu um cigarro e tentou caminhar mais depressa, para atravessar ainda com o farol vermelho, porém não conseguiu. Pensou por um momento inclusive em atravessar mesmo assim, e deixar que algum carro resolvesse de uma vez por todas os seus problemas, mas não foi o que ela fez. Parou junto a um poste, na calçada, e discou rapidamente a sequência de oito números que chamava quase que diariamente, para bons ou maus acontecimentos. Sete toques, e a mensagem gravada por uma locutora de aeroporto: "Sua mensagem está sendo encaminhada para a caixa de mensagens, e estará sujeita a cobrança após o sinal"... Pensou na amiga, e imaginou por que ela nunca atendia o celular. Ligou na casa mesmo, tentando controlar o choro caso algum dos familiares dela atendesse o telefone.
"Boa noite, desculpe incomodar a esta hora"... Ela vivia pedindo desculpas. Para seus pais, por ter momentos explosivos em casa; para seus amigos, por não saber controlar suas palavras duras; para seu chefe por atrasar o serviço. De tanto pedir desculpas, as palavras começaram a não mais fazer sentido para ela. Nem para ela, nem para os que as ouviam, pois já saíam de sua boca contaminadas pelo vazio intencional.
Conversou com a amiga por dezessete minutos e cinquenta e seis segundos. Foi o tempo de chorar, lamentar, perguntar por que e mesmo ver se a amiga sabia o que havia feito aquela boca dizer tais palavras para ela, minutos atrás: "Aquele avião deveria ter caído junto com você, assim eu não precisaria ter passado metade do desgosto que você me fez passar!" As palavras ainda ecoavam em seus ouvidos, enchendo os seus olhos de água e seu coração de rancor. Enchendo também a paciência da amiga, que pelo outro lado da ligação nada podia fazer, a não ser dar palavras de incentivo e de consolo, para que ela não tentasse nenhuma atitude desesperada ou impensada.
"Qualquer dia ele me mata", pensou, acariciando o peito. "Se não for fisicamente, me mata de tristeza", concluiu. Viu um ônibus vinho se aproximando do ponto e deu o sinal. Já haviam passado quatro que iam para o mesmo destino, mas ela não se sentia em condições de se mexer. Neste quinto resolveu fazer força, levantou o braço esquerdo e esperou que o grande coletivo encostasse perto da calçada.
"Bicho barulhento", pensou com ela, enquanto passava pela catraca e o motorista acelerava, rumo ao centro da cidade. Pensou ainda no outro ônibus que teria que tomar, e o tempo que levaria até chegar em sua casa. Seus olhos estavam fixos em lugar algum, ela sentou-se na primeira dupla de cadeiras que encontrou vazia, largando a pesada mochila no banco junto à janela e o próprio corpo na cadeira ao lado. O celular ainda nas mãos, discou para a operadora, certa de que seus créditos haviam chegado ao fim com a última ligação.
(Continua...)
Ela estava sozinha agora.
“Prefiro morrer, a ter que te agüentar por mais um dia”, fora a frase que havia fechado a noite. O eco de cada palavra a fazia soluçar, mas ela ainda precisava passar pela portaria e enfrentar três ônibus até chegar em casa. Não podia se dar ao luxo de soluçar. Logo ela, que nunca gostou de chorar em público, estava do outro lado da cidade em prantos.
Passou apressada pela portaria, aproveitando a chegada de um entregador de pizza que segurou o portão para ela. Nem ao menos agradeceu, ou deu “boa noite” ao porteiro que, desde o momento em que ela havia chegado, sabia que as coisas não estavam bem. Ela não conseguia mais pensar em nada.
Eram quase dez da noite de uma sexta-feira que definitivamente não terminou bem. todos já haviam saído do trabalho, mas ela tinha que trabalhar mais, seus horários não eram normais como o de todos os outros; seu trabalho também não era normal. Para dizer a verdade, o que se pode chamar de "normal" é algo que ela nunca gostou, e uma palavra que ultimamente representa exatamente o antônimo do que se transformou sua vida.
Tirou o celular do bolso, à medida em que suas lágrimas ficavam mais grossas. Acendeu um cigarro e tentou caminhar mais depressa, para atravessar ainda com o farol vermelho, porém não conseguiu. Pensou por um momento inclusive em atravessar mesmo assim, e deixar que algum carro resolvesse de uma vez por todas os seus problemas, mas não foi o que ela fez. Parou junto a um poste, na calçada, e discou rapidamente a sequência de oito números que chamava quase que diariamente, para bons ou maus acontecimentos. Sete toques, e a mensagem gravada por uma locutora de aeroporto: "Sua mensagem está sendo encaminhada para a caixa de mensagens, e estará sujeita a cobrança após o sinal"... Pensou na amiga, e imaginou por que ela nunca atendia o celular. Ligou na casa mesmo, tentando controlar o choro caso algum dos familiares dela atendesse o telefone.
"Boa noite, desculpe incomodar a esta hora"... Ela vivia pedindo desculpas. Para seus pais, por ter momentos explosivos em casa; para seus amigos, por não saber controlar suas palavras duras; para seu chefe por atrasar o serviço. De tanto pedir desculpas, as palavras começaram a não mais fazer sentido para ela. Nem para ela, nem para os que as ouviam, pois já saíam de sua boca contaminadas pelo vazio intencional.
Conversou com a amiga por dezessete minutos e cinquenta e seis segundos. Foi o tempo de chorar, lamentar, perguntar por que e mesmo ver se a amiga sabia o que havia feito aquela boca dizer tais palavras para ela, minutos atrás: "Aquele avião deveria ter caído junto com você, assim eu não precisaria ter passado metade do desgosto que você me fez passar!" As palavras ainda ecoavam em seus ouvidos, enchendo os seus olhos de água e seu coração de rancor. Enchendo também a paciência da amiga, que pelo outro lado da ligação nada podia fazer, a não ser dar palavras de incentivo e de consolo, para que ela não tentasse nenhuma atitude desesperada ou impensada.
"Qualquer dia ele me mata", pensou, acariciando o peito. "Se não for fisicamente, me mata de tristeza", concluiu. Viu um ônibus vinho se aproximando do ponto e deu o sinal. Já haviam passado quatro que iam para o mesmo destino, mas ela não se sentia em condições de se mexer. Neste quinto resolveu fazer força, levantou o braço esquerdo e esperou que o grande coletivo encostasse perto da calçada.
"Bicho barulhento", pensou com ela, enquanto passava pela catraca e o motorista acelerava, rumo ao centro da cidade. Pensou ainda no outro ônibus que teria que tomar, e o tempo que levaria até chegar em sua casa. Seus olhos estavam fixos em lugar algum, ela sentou-se na primeira dupla de cadeiras que encontrou vazia, largando a pesada mochila no banco junto à janela e o próprio corpo na cadeira ao lado. O celular ainda nas mãos, discou para a operadora, certa de que seus créditos haviam chegado ao fim com a última ligação.
(Continua...)
26 de agosto de 2008
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