- Mas nesse exercício aqui o que é que está errado? O nome do livro não é Hamlet?A professora lê a questão. Pensa na resposta. O método construtivista a impede de simplesmente dizer que faltaram as aspas. Imagina um jeito de fazer a aluna chegar sozinha à conclusão. Com toda a paciência do mundo dá a preciosa dica:
- Que tal ler de novo o trecho do texto? A resposta está lá.A aluna em questão é uma mulher de seus quase quarenta anos que tem que sair dali a pouco pra buscar sua filha no balé; ela não parece querer saber muito dessa história de descobrir seus próprios erros. Passa os olhos pela folha de papel e pede a resposta de novo. A professora arrisca:
- O nome do livro é esse, mas o que é que está faltando nele?Aquelas duas palavrinhas mágicas. A alforria para a professora. Agora, sim, ela poderia dizer a resposta, mas não sem antes (claro!) explicar o motivo.
- Não sei.
- Sempre que você fala de um livro, um filme, precisa colocar aspas no nome pra identificar o título desse livro dentro do texto. Entendeu?A professora esboça um sorriso, já imaginando como seria ficar cara a cara com o ator. A aluna fica em silêncio. Envolve o nome do rei dinamarquês com dois tracinhos à direita, dois tracinhos à esquerda e vira a página. O assunto morre ali.
- Pra quê?
- Porque se você disser simplesmente que encontrou Hamlet na livraria eu posso pensar que você encontrou o Wagner Moura vestido com roupas shakesperianas, segurando uma caveira no meio da livraria.
(Sim, isso aconteceu comigo. Fiquei triste. Achei que a moça ia rir, fazer um comentário espirituoso, dizer qualquer coisa... Nada. Nenhuma reação. E eu só queria um mísero "Hahaha"...)
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