23 de outubro de 2009

Mais uma noite

Escrito na madrugada de ontem.

(00h08) Passei meia hora me olhando no espelho. Comecei como quem não tem mais nada útil pra fazer, cuidando das espinhas e arrumando a sobrancelha; mas depois comecei a reparar em mim mesma. Olhei de lado, olhei de cima, olhei de baixo. E não vi mais nada.

Não vi mais aquela criança que adorava assistir desenho na TV e andar de patins, mesmo que isso a deixasse com enormes bolhas nos pés chatos. Não vi mais aquela adolescente mimada, que gostava de espiar de longe os meninos da escola dela quando jogavam futebol e ficavam se exibindo pras menininhas. Não vi mais aquela mulher que ainda não está pronta, que mal sabe das coisas do mundo mas insiste em fingir saber, só pra que não a façam de tonta.

Não vi mais do que uma adolescente ainda criança, assustada com a possibilidade de ter que virar mulher antes do planejado. Não vi mais do que uma moça desiludida da vida, lutando pra que ela ainda tenha alguma cor, algum sentido, algum fim. Não vi mais do que olhos castanhos (como os de toda a gente) deixando escorrer uma lágrima que não deveria estar ali. Não vi mais do que cabelos vermelhos molhados, que ao secar fazem caracóis bonitos mas quanto mais ela se esforça por cuidar mais lisos e disformes eles ficam.

Não vi dentro dos olhos dela nenhuma luz que pudesse sair. Havia uma lanterninha fraca, quase sem pilha, acesa lá no fundo. E um coração apertado, quase escondido, meio caído, meio dormindo. Foi isso o que eu vi, e me assustei, e chorei, e saí correndo da frente do espelho, por não querer ver mais nada. (00h38)

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