14 de maio de 2010

E o Olho cegou...

Título absurdo pra um trabalho absurdo que fiz junto com uma amiga em 2006: Traçar um paralelo entre o (ótimo) documentário "Janela da Alma" e o livro "Ensaio sobre a cegueira". Tarefa difícil pra alguém cuja visão de mundo se limitava ao eixo São Paulo-Arujá, mais precisamente o trajeto casa-faculdade-casa.

Encontrei o trabalho semana passada, perdido entre um dos muitos backups do meu antigo computador. Segue um trecho muito pertinente.

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Outro ponto discutido é: o que é a cegueira? A cegueira ou dificuldade para enxergar não é algo propriamente físico. Hoje existe também a perda do olhar interior, da sensibilidade geral. Um exemplo interessante é do fotógrafo cego Evgen Bavcar, que mostra na película seu processo de trabalho. “Posso vê-la com os olhos da mente”, ele afirma a respeito de uma modelo que estava fotografando. Muitos pensam que não seria capaz de ter um bom trabalho, entretanto, ele “faz as imagens” de modo a provocar reflexão em quem vê suas obras. Ele não enxerga o mundo como os outros o vêem, mas tem a sensibilidade necessária para chocar e comover os que observam suas fotografias.


A pessoa não pode “falar com a língua do outro, ver com os olhos do outro”, pois isso a transforma em um boneco. Segundo Manoel de Barros (um dos entrevistados do documentário), ”os produtos culturais precisam de um espaço para inserirmos os sonhos”. Se for algo fechado não teremos a oportunidade de trabalhar a nossa imaginação e discernimento. A alma deve sair dos olhos, que não são só passivos.


Contudo, em uma sociedade na qual prevalecem opiniões prontas e em grande quantidade, a pessoa perde o espaço crítico (já afetado pelas suas limitações naturais). Ter demais pode ser considerado não ter nada. Já diziam nossas avós, que “Quem tudo quer, tudo perde”. Um homem da Idade Média não consumia durante toda a sua vida o volume de informações que uma pessoa consome hoje, em um dia. A curiosidade vem do jornalista Leão Serva, criador do jornal Último Segundo, no portal Ig. O excesso de informações, imagens, comunicação é uma síndrome do homem pós-moderno. Na era da rapidez são poucas as pessoas que esperam de bom grado que o carro da frente saia só depois de 5 segundos que o farol ficou verde. Que dizer, então, de um carro que permanece parado, e seu motorista atônito gritando lá dentro: “Estou cego”? Tanto o livro quanto o filme nos mostram que perdemos a humanidade, somos hoje humanóides que se multiplicam nas enormes “gigalópoles”.


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#Reflitão.

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