21 de maio de 2010

Você

Estação Sé, seis da tarde.

Eu estava ouvindo música no metrô (como sempre), quase cochilando, nem percebi direito quando ele entrou. Vi apenas um vulto de barba branca, e já estava me preparando para dar-lhe o meu lugar, quando simplesmente estaquei.

A barba de vários dias por fazer. Os ombros caídos. O nariz, a boca... era você! Não poderia ser, ele devia ter quase o dobro da sua idade. Mas ele tinha o seu jeito de andar. Você nunca vestiria as roupas que ele estava usando. Mas ele tinha o seu olhar. Aquele olhar que há meses não vejo em mais nenhum rosto; algo que era "só seu" até então.

Sensação estranha.

Eu tanto quis poder voltar no tempo e consertar os erros todos, quis apagar cada fotografia e queimar cada pedacinho de lembrança... de repente "você" estava ali... e daí?

Cabe aqui a mais recente (e óbvia) descoberta desta pobre cronista: Você não significa mais nada. Você não é único. E nunca foi especial.

Sou do tempo em que o remédio pra curar feridas ardia como o diabo. Mas depois voltava ao normal, à calma. Tá tudo bem agora.

Daqui pra frente? Não faço ideia. Maio já está no final e eu sinceramente não pretendo pensar mais nisso. E se pensar, posso me lembrar daquele senhor do metrô, vendo sem entender um sorriso de contentamento de uma garota que lhe cedeu o lugar e saiu cantando pelo vagão.

3 comentários:

  1. Texto perfeito!

    Ensine quem precisa a deixar o que passou pra trás.

    Amo demais.

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  2. eu vou roubar seu texto e credita hahaha

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  3. Desde que coloque o link aqui depois, fique à vontade ;)

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