17 de outubro de 2010

Incoerência


Era uma vez uma menina que nasceu em 1987, quase junto com a democracia como a conhecemos hoje. Ela não viveu a opressão da ditadura que havia caído pouco tempo antes. Ela não teve seus direitos cerceados por governantes autoritários, nem foi presa ou torturada por defender ideologias consideradas perigosas. Mas ela estudou sobre isso, conheceu pessoas que passaram por episódios traumatizantes e até completar 23 anos ela ainda tinha esperanças na capacidade de julgamento do povo de sua terra. Essa menina sou eu.

Nasci e cresci em um lar evangélico (para aqueles que gostam de rótulos: cristão, protestante, reformado, presbiteriano). Nunca fui muito com a cara daqueles pastores que aparecem em programas na TV; seja fazendo pregações inflamadas, seja exorcizando demônios em cerimônias com 318 convivas. Comentava com minha mãe às vezes: "[Fulano] tem cara de charlatão". Minhas acusações gratuitas nunca tiveram sua confirmação, e eu seguia tranquilamente mudando de canal.

Até que uma figura ganhou meu respeito, quase dois meses atrás. Eu não tinha nada contra ele, mas uma mensagem de um de seus programas realmente me tocou. Achei que tinha ali alguém confiável. Um pastor que não dizia nomes e nem fazia referências veladas ao candidato X ou Y. Um homem cumprindo seu papel enquanto líder de um grupo social, alertando os seus a respeito das implicações de um ato tão simples e tão complexo quanto o voto.

Passo a citar: (03:50) "Cuidado, pastor, pra você não trocar o seu voto pelo telhado da igreja, pela porta da igreja, pelos bancos da igreja, porque isso é corrupção, como qualquer outra corrupção. Cuidado pra você não trocar o voto do seu rebanho por uma nomeação do seu filho. Isso é tão corrupto como qualquer outra corrupção. Eu quero deixar esse alerta aqui: não vamos vender o povo de Deus por interesses mesquinhos e pessoais." (04:28)

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(esta é a parte 2, se quiser assistir à parte 1 clique aqui ou espere pelos "vídeos relacionados" ao fim deste.)

Assisti ao programa (que NÃO tinha a indicação dos candidatos a deputados estadual e federal), fiquei feliz, fui mesária no primeiro turno e tive algumas decepções logo que saíram os resultados. Não me manifestei porque achei desnecessário, uma vez que todos ao meu redor reclamavam da mesma coisa que eu. Daí essa semana me deparei com o mesmo pastor que disse que não podia citar nomes na TV fazendo uma pequena aparição no horário eleitoral gratuito. Morri por dentro um pouco mais.

Não é pela propaganda ao Serra. Não é porque eu queria que ele apoiasse a Dilma. (Sim, a Dilma. Algum problema? Comentários estão aqui embaixo pra isso). É por decepção e vergonha alheia que posto este texto. É porque estou calada há muito tempo, e triste com a baixaria e os ataques de ambos os lados. Cansei de esperar propostas, o que tenho visto é intolerância e pessoas defendendo suas opiniões com mais afinco do que discutem futebol ou religião.

"Cada povo tem o governante que merece", e é disso que eu mais tenho medo.

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